segunda-feira, 22 de março de 2010

Porque me apetece

Lágrimas ocultas  
Se me ponho a cismar em outras eras 
Em que ri e cantei, em que era querida, 
Parece-me que foi noutras esferas, 
Parece-me que foi numa outra vida...  
E a minha triste boca dolorida, 
Que dantes tinha o rir das primaveras, 
Esbate as linhas graves e severas 
E cai num abandono de esquecida!  
E fico, pensativa, olhando o vago... 
Toma a brandura plácida dum lago 
O meu rosto de monja de marfim...  
E as lágrimas que choro, branca e calma, 
Ninguém as vê brotar dentro da alma! 
Ninguém as vê cair dentro de mim!                               

Florbela Espanca 

Sem comentários: